Orfeu e o Amor
Fechei os olhos e consegui ver, claramente, que Orfeu estava sentado a um canto da sala de baile e as suas mãos afagavam a lira que o Deus Apolo lhe tinha oferecido. Havia uma envolvência intensa entre as mãos e a lira de tal maneira que parecia que a lira e Orfeu eram apenas um. Eu conhecia Orfeu há muitos anos e sabia que todos os que o ouviam ficavam extasiados com o som da sua música e da sua poesia. Ele não era um poeta ele era, o Poeta! As árvores vergavam-se para o ouvir, os animais selvagens paravam e sentiam que a doçura os envolvia.
No entanto; o coração, a música, a poesia e o ser de Orfeu era de Eurídice, parecia-me que tinha sido desde o início dos tempos. Lembrava-me do seu casamento e de como os sons se misturavam com o amor. Tinha ficado enternecida quando Orfeu, perante todos, disse a Eurícide, que não tinha muito para lhe dar, mas que podia contar consigo para além da vida.
No dia em em que Eurícide foi picada; por uma cobra, no meio da floresta e morreu, Orfeu abraçou-me com força e sussurrou-me que tinha de ir ter com ela. Tremi e não duvidei que assim fosse. Ouvi a sua lira, uma vez mais, e percebi que tentava convencer Hades a ir ao mundo dos mortos para resgatar a sua amada. Ninguém resistia à sua música e às suas palavras e com Hades não foi diferente. Deixou-o ir e uma viagem que se previa de ida e volta, tornou-se definitiva porque ele não resistiu e olhou para trás(coisa que o rei Hades, tinha proibido.)
Orfeu ficou para sempre com Eurícide. Hoje fechei os olhos e ouvi uma lira que cantava o amor...