Os melhores escondem vazios inimagináveis...
(imagem retirada da net)
Chegou atrasada, já estavam todos sentados. Entrou devagar, mas o livro grande e pesado de arqueologia adiantou-se aos seus passos passando-lhe à frente e causando um grande estardalhaço. Todos se viraram e sorriram, uns porque acharam piada outros reprovado o atraso e o descuido. Independentemente do motivo, todos sorriram hipocritamente.
Ela sentou-se na única cadeira vazia e apresentou-se. Ficou calada um bocado, mas daí a uns breves instantes voltou a falar e outra vez e mais outra, até que a conversa estava centrada nela. Tinha uma necessidade desmedida de ser o centro das atenções, de falar e de agradar.
Os livros sucediam-se em cima da mesa, como se ela preparasse um desfile de conhecimento. Como se tivesse uma necessidade desmedida de aprovação, de reconhecimento. Continuou a falar durante horas, de si, apenas de si. Era a melhor, sabia de tudo. E os filhos? Os mais espertos, os melhores. E as notas? Todos no 19. Ela só não teve 20, dizia, por causa das referências bibliográficas. E na outra ponta ele olhava para ela, via-lhe os olhos, acompanhava o movimento da boca sem ouvir as palavras e adivinhava o vazio daquela alma, percebia o medo na expressões dela, nos gestos. Estava tão vazia aquela mulher, que só as palavras eludiam o eco que a acompanhava. Os melhores escondem vazios inimagináveis...