Pedras...
Imaginou vezes sem conta o que lhe diria, ensaiou diferentes respostas.Nessa altura sentia-se forte e com a certeza que desta vez não a enganariam. Repetia o que dizer, a forma como ia pousar as mãos, a posição dos pés e convenceu-se de que não haveria falhas.
Andou muito a pé e quando se cansou sentou-se numa pedra rugosa e cinzenta.Olhou para ela sentiu-lhe a textura percebeu que as pedras, as pesadas enterram, sem enterrar tudo o que vive por baixo delas. Imaginou palavras a escaparem ao peso da pedra, viu imagens a voarem, percebeu os sentimentos que o peso das pedras não cala. Levantou-se, olhou para o céu, sentou-se de novo.
Estava inquieta e tudo o que, momentos antes, lhe saía com fluidez agora estava confuso e sem sentido. Ele tinha esse poder nela. Desde pequena que assim era.
Conheceu-o desde sempre, sem o conhecer. Amou-o como uma irmã ama o seu irmão, mas as pedras estiveram sempre entre eles. Ela porque se recusava a aceita-las e as deixar que lhe pesassem nas costas, ele porque queria abafar a sua luz. Viveram assim por anos, em vidas de faz de conta. Um dia apercebeu-se que as pedras maiores era as que ela carregava no coração, nesse dia, nesse mesmo dia, alguém morreu sem, contudo deixar de existir.