Quem quer voltar à Infância?
Na tela preta uma daquelas bolas de vidro, que quando é movimentada faz com que a neve caia, rola pelo chão até se se partir. - Rosebud, murmura o protagonista. Para quem não se lembra esta palavra fecha o conhecido filme Citizen Kane. Muito se escreveu sobre o filme e sobre o significado desta palavra que parece ser, o retorno que a personagem faz ao seu eu mais profundo e diria até que representa a viagem de regresso ao tempo onde foi verdadeiramante feliz e completo. Refiro-me à infância.
Basta-me fechar os olhos e encontro, tal como Kane, o aconchego dos dias sem fim, das risadas sinceras e espontâneas, do aperto dos pés quando, vaidosos, tinham uns sapatos novos.
No fim da praia havia uma camisola quentinha que nos ensinava o valor do aconchego e da protecção e o vento era empurrado para tão longe que nem sabiamos bem se, de facto, existia ou se tinha sido apenas um sonho. No ar havia sempre cheiro a bolos e o narizito ficava extasiado.
As prateleiras repletas de livros eram uma promessa de aventuras sem fim. Tenho de aprender a ler depressa, pensava, e franzia o sobrolho porque tinha a noção que, aqueles livros, me andavam a esconder coisas. - Raio dos livros murmurei, arreliada, tantas vezes.
De tarde havia lanche em baixo da figueira e podia escrever o que quisesse. Talvez não fosse bem uma escrita, talvez fosse mesmo uma não escrita, mas era a minha. O sol beijava essas palavras e fazia-me querer caminhar depressa. Que chato, o sol!... devia ter ficado debaixo da figueira... quero voltar para a camisola, quero que o vento se vá embora, de novo. Quero a minha Rosebud!!