Ser triste...
Desde que se conhecia que era triste. Não triste daquelas tristezas de sorriso, ou lágrima ou das de cara fechada ou aberta. A tristeza dela era existencial, profunda e colava-se a si como a pele.
Por muito que sorrisse ou tentasse enganar-se a tristeza não se ia embora e moldava-lhe os actos, minava-lhe a confiança e fazia-a ser diferente do que era a sua natureza.
Passeava pela rua, alheia ao que a rodeava, com o lenço azul a esvoaçar no pescoço e a mala, que sempre carregava na mão, como se estivesse em permanente viagem.
Na rua onde ela andava, habitualmente, parecia não haver mais ninguém, só sons de fundo, indistintos a que ela não dava muita importância. Naquele dia, contudo, houve algo que a trouxe de volta à rua repleta de pessoas, com conversas vivas e sons presentes.
Viu a cara mais triste que a vida já lhe tinha dado ver, sentiu naquela cara a sua tristeza. Viu-o magro encostado a um muro, com uma pasta na mão. Os olhos no chão e o impasse em avançar, ou não. Apressou o andar, chegou perto dele, perguntou-lhe as horas para lhe ouvir a voz. Demorou a responder talvez porque também ele andasse perdido na rua onde não havia ninguém.
Escutou-lhe uma, a uma, as palavras e confirmou a tristeza dele. Puxou-o para si e deu-lhe um abraço. Ela sabia, melhor que ninguém o que era a tristeza e por isso não podia deixar que ele também a sentisse.
Ele olhou-a desconfiado, mas simultaneamente um sorriso desenhou-se no rosto magro e encovado.
As pessoas tristes tentam sempre fazer os outros felizes porque só elas sabem o que é ser triste...