A nossa sociedade premeia cada vez mais, o mal! Ética é algo a exigir dosoutros e não de mim?
A história está repleta de figuras admiradas porque as suas condutas eram, ou foram, pouco virtuosas. Parece que ser ético, está cada vez mais, fora de moda e que se privilegia o sucesso fácil, sem trabalho e conseguido por meios pouco ortodoxos. Para além disso tenho cada vez mais dúvidas, salvo raras excepções, que se consigam grandes fortunas e enormes carreiras de forças licitas e, sobretudo éticas, Li recentemente duas biografias que me deixaram a pensar, profundamente, nos caminhos que o nosso tempo percorre e naquilo que admiramos.
A primeira biografia é a de Steve Jobs, o patrão da Aple, que todos admiram acalentando, no fundo, um desejo secreto de ser como ele. Pois bem: Steve Jobs começou a sua empreitada a construir uma caixa para roubar sinal de rede aos Estados Unidos. Este foi o seu primeiro invento: Uma caixa que roubava. Ele orgulhava-se disto e está explanado na sua biografia. Ele cometeu uma infracção e coloca isso como sendo a de um espirito empreendedor. Não sei se sou eu que analiso isto mal, não tirando o mérito e inteligência do Senhor, que são inegáveis, fico a perguntar-me se este é o caminho para o sucesso? Se é objecto de admiração alguém que começa o seu negócio a roubar e que, pior que isso, se orgulha disso e propagandeia esta acção. O que dizer a um filho ou um sobrinho quando nos disserem: Caramba o Steve Jobs é um homem admirável. Eu vou começar a roubar porque quero chegar onde ele chegou e sem roubo não há sucesso.
Zygmunt Bauman "substitui" o conceito de pós-modernidade pelo conceito de mundo líquido. Para mim este é um conceito bastante reflexivo e profundo, no sentido em que retrata bem o mundo em que vivemos.
O conceito de um mundo sem contornos e, no fundo, sem limites é aquele que Bauman defende. Para além da forma líquida que os estados assumem e de todas as implicações económicas e sociais há todo um reduto interior e de valoração que está a ser atingido por esta liquidez.
Há muito que se fala de uma crise de valores, mas para Bauman mais do que uma crise de valores há uma fluidez de valores. Não se sabe bem, hoje, em que devem assentar as decisões e no fundo o que deve nortear o ser humano. Assiste-se, cada vez mais, a um aumento de informação e a uma diminuição da formação.
A responsabilidade e a alteridade estão a ser arrastadas pela liquidez e estão a esbater-se, grandemente, e de forma global. O autismo e o egoísmo ganham terreno de uma forma a que nunca assistimos.
Estamos num mundo em que a punição está em extinção e a permissividade caminha a passos largos numa estrada em que, na linha da meta está a bandeira do símbolo de vitória deseducação e do desnorte.
Já ninguém sabe onde está a separação que marca o limite entre o público do privado e vive-se num mundo em que temos a sensação de estar constantemente num Big Brother(se Orwerll fosse vivo ia pensar que estava a sonhar).
É urgente encontrar bússolas (muitas) e voltar às bases, às raízes, à arqué. Compreender que o mundo e a vida não são, apenas, o que é publicado do face e que isso devia permitir o desenvolvimento e não o atrofiamento das relações.
O desnorte e a fluidez de valores leva a que se assista a vitórias como a de Trump e a aumento de simpatias com as ideologias de extrema direita.
Diz Bauman que : "... quer dizer que estamos passando de uma era de "grupos de referência" predeterminados a uma outra de "comparação universal" em que o destino dos trabalhos de auto-construção individual está incuravelmente endémica, e tende a sofrer numerosas e profundas mudanças antes que esses trabalhos alcancem o seu único fim genuíno: o fim da vida do indivíduo."