Eurícide foi picada por uma cobra e morreu. O marido, inconformado, vai ao mundo dos mortos e convence Hades a permitir que Eurícide volte à vida. No entanto, Hades impõe uma condição: ela pode viver, mas ele (Orfeu) não poderá olhar para trás.
Nestes últimos dias do ano pensei muito na história de Eurídice e Orfeu. Na importância que tem o seguir em frente, na renovação da esperança que se inicia com cada ano. Mas o olhar para trás(ou não olhar) é quase como uma caixa de pandora. Há males que devem ser encerrados e não mais voltar a eles. Temos de saber olhar para as coisas boas, apreciá-las, valorizá-las, mas as outras é deixá-las onde estão. A caixa quando se abre assemelha-se a um emaranhado que nos atinge enrolando-nos e aprisionando a nossa força e esperança.
Quando se olha para trás sujeitamo-nos a voltar para o mundo dos mortos, como aconteceu com Eurídice e Orfeu. Neste ano, prestes a começar, devemos olhar para o que está em frente, nos caminhos que se nos oferecem e mais importante: caminhar sem pesos. Bom Ano 2019!
Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.
Parece óbvio que o Ano Novo seja no dia primeiro de Janeiro, mas na realidade essa data só se consolidou, na maioria dos países, há mais ou menos 500 anos. Dos calendários babilónicos de 2.800 a.C. até ao calendário gregoriano, a passagem de ano mudou muitas vezes de dia.
A primeira comemoração que tinha a conotação de “Festival de Ano Novo” foi na Mesopotâmia por volta de 2.000 a.C. A festa começava sempre na lua nova do equinócio da Primavera, em meados de Março. Os Assírios, Persas, Fenícios e Egípcios celebravam o início de um novo ciclo no dia 23 de Setembro, e os Gregos no 21 ou 22 de Dezembro.
Os romanos foram os primeiros a estabelecer um dia no calendário para a comemoração da passagem de ano, lá por volta de 753 a.C. Para eles, o ano começava no dia um de Março. A data só foi trocada em 153 a.C para primeiro de Janeiro. Em 1582, a Igreja consolidou esta “escolha” no calendário gregoriano.
Ainda assim, até hoje, alguns povos e países comemoram o Ano Novo em datas diferentes– como a China, que gosta de celebrar entre o fim de Janeiro e começo de Fevereiro. A comunidade judaica também tem outro calendário: a festa ocorre em meados de Setembro ao início de Outubro. Para os islâmicos, o Ano Novo é celebrado em meados de Maio.
Ele entrou vagarosamente, arrastou a pesada cadeira de madeira e sentou-se. Pos-se a rasgar a folha de um calendário que estava em cima da bancada: era a última página(mas podia ser a primeira, ou a do meio). Passou mais um ano, pensou.
Levantou-se, os movimentos presos e demorados pareciam querer agarra-lo ao momento, aquele momento. Mas tudo tem um fim, mais tarde, mais cedo, tudo termina...
Puxou a mala que estava no cima do armário com vidros, abriu-a e colocou um relógio grande, com estrelas à volta, algumas camisolas e fechou-a. Olhou em volta, suspirou e continuou a arrastar os pés em direcção à rua. Abriu novamente a mala à procura do relógio. Está quase na hora, pensou.
Está na hora de abandonar os dias que passaram sem que se desse conta, os segundos em que via a lua e que se esquecia de quem era, os minutos em que o mar o olhava de longe. Este é o momento de deixar...
O tempo não parou, e o que foi não será o mesmo, mas em cada fecho existe a oportunidade de começar tudo de novo, de ser melhor, de ser pior, mas acima de tudo de tentar. Renovar as esperanças, acreditar nos sonhos e nunca, mas nunca desistir.
Saiu para a rua, a noite estava fria e estrelada. Ao longe ouvia-se um choro apressado e cândido, tudo nasceria(de novo).