Do corte das amarras à viagem na carroça....
Há uma metáfora formulada pelos filósofos estóicos Zenão e Crisipo e relatada pelo bispo romano Hipólito que sempre me lembro e que diz o seguinte:
Quando um cão é amarrado a uma carroça, se a quer seguir é puxado e segue-a, fazendo com que o acto espontâneo coincida com a necessidade. Mas se o cão não a quer seguir, mesmo assim será obrigado. O mesmo também se passa com os homens: mesmo quando não querem serão obrigados a seguir o seu destino.
Apesar desta metáfora me parecer muito limitativa a verdade é que, de facto, há coisas contra as quais não conseguimos lutar. Por vezes desperdiçamos energia em situações, pessoas e coisas que estão, desde logo, resolvidas por si. Temos de conseguir diferenciar entre o que podemos modificar e o que temos de aceitar. Aquilo que conseguimos alterar deve ser colocado em cima da carroça, tirar-lhe todas as amarras e pesos e seguir com o vento como combustível. A viagem vai ser longa, por vezes os braços vergam, mas não podemos parar. Vamos encontrar, ao longo da travessia, muita gente a querer demover-nos a desejarem atrelar-se à carroça, que continua veloz pelo caminho empedrado. Vão dizer-nos que as rodas estão soltas, que nunca vamos conseguir chegar ao destino, vão querer convencer-nos que estamos loucos, mas internamente eles também desejavam seguir naquele transporte. Quem segue na carroça não sabe desse desejo secreto e duvida muitas vezes se aquilo será o certo. No fim, uma única certeza, a necessidade de fazer e de estar a caminho.