Esperança...
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As sementes de girassol foram lançadas na terra castanha e já penteada. A água banhou as sementes, o sol ofereceu-lhes o calor necessário, mas as sementes não germinaram. Ela olhava todos os dias para aquela terra, que a pouco e pouco se encheu de feias ervas, mas as flores não cresciam. Idealizou como ficaria o campo florido, do cheiro que entraria dentro dela e que lhe traria a impressão de estar num lugar quase irreal, mas nada disso aconteceu.
A Primavera passou, seguiu-se um quente Verão, o Outono trouxe as folhas secas e mortas, o Inverno a neve e o esquecimento daquilo que seria a imagem perfeita, de um campo em flor. Assim que a chuva e o frio acabaram foi necessário tirar todas as ervas secas, tratar a terra, pentea-la de novo e oferecer-lhe outros enfeites.
Novas sementes foram lançadas à terra e, de novo, nada sucedeu, para além de um vestido de ervas e paus.
Na Primavera seguinte, desiludida com o espaço estéril, não semeou mais nada. Não conseguiu repetir o processo de semear e de saber que não ia colher. Cortou apenas as ervas e continuou a regar o campo. Apesar de não ter nada, não gostava de ver a terra faminta de água. Deu-lhe comida e tratou-a, sem esperar nada em troca.
Não sei explicar a razão porque o fazia, talvez uma noção de dever se apoderasse dela ou então, simplesmente, porque tinha de o fazer. A verdade é que ela o fazia todos os dias, sem esperar, mas ao mesmo tempo sem desistir.
Um dia, sem que nada o fizesse prever, olhou de relance e descobriu no meio do campo, uma erva especial depois, olhou com atenção, e viu outra e mais outra. Os girassóis, envergonhados, espreitavam, agora pela janela da terra e olhavam para cima espantados. Ela sentou-se e esperou até que todos estivessem abertos, depois continuou a oferecer-lhes água.
Nunca mais esperou nada, mas continuou a regar, todos os dias, as terras secas que existiam à sua volta.