Ser pequeno é prender
(imagem retirada da net)
Sentou-se na mesa do café que ficava em frente à escola, onde ela trabalhava. Tirou um cigarro e acendeu-o, nervosamente. Sabia o que ela lhe ia dizer, pressentia-o, pelo menos. Desde que ela lhe dissera que tinha um assunto importante para falar com ele, que sabia o que era. Atirou uma baforada para longe e amachucou, com os dedos, o papel da caixa dos cigarros. Sentia-se pequeno cada vez que pensava nela, não porque ela o fizesse sentir pequeno, mas porque perto dela todos eram pequenos. Sabia-lhe a força, descobria-lhe, em cada gesto, a capacidade desmesurada de amar.
Admirava-lhe os olhos brilhantes quando se entusiasmava com um tema. As palavras envolviam quem a ouvia, era impossível que assim não fosse. Ela punha uma tal força e entusiasmo que qualquer tema, mesmo os mais insignificantes ganhavam dimensão. Ela colocava amor em tudo, ela punha-se a si, à sua alma, em tudo o que tocava.
Imerso nestes pensamentos, viu-a chegar, com um vestido verde, elegante, de sorriso na cara e cabelo esvoaçante. Cumprimentou-o com um beijo, pareceu-lhe ainda mais bonita. Acompanhava os movimentos dos lábios e adivinhava as palavras que ele já conhecia, sempre sem ouvir. Invejava-a e estava contente, mais que isso, estava feliz por ela e por ele, mas não conseguia dizer-lhe. Ao contrário tratou de encontrar aspectos negativos, amarras que a prenderiam e não a deixariam voar, algemas que a fariam estar perto dele e não lhe descobrir a fraqueza. Tempos depois, na mesma mesa, percebeu o mal que lhe tinha feito e viu-a tal pássaro numa gaiola. Deu-lhe as chaves e ela convidou-o a voar com ela...