Há uns dias tinha falado deste escritor mexicano(Juan Rulfo) a propósito de outro conto dele( Pedro Páramo) e da surpreendente descoberta dos textos e do escritor. Como gostei do primeiro acabei por ler outros contos onde estava este Galo de ouro. Inúmeras coisas me ocorrem agora que terminei a sua leitura, mas a única que de facto que me parece pertinente é o pensamento que, de alguma forma, me faz lembrar a Pérola do Steinbeck, porque da mesma forma que o Ruanito se afastou do essencial porque possuía uma pérola, também o protagonista desta história se perdeu no destempero do lúdico, da ganância, mas de uma forma intimista e que nos faz pensar seriamente, nas prioridades da vida, na valorização do que não é valorável; no vazio ,no sentido, na vida, na morte. Em suma: no Ser Humano.
Diz Gabriel García Márquez que a descoberta e leitura de Rulfo é um capítulo essencial das suas memórias. Na noite em que começou diz ele que não conseguiu parar enquanto não terminou a segunda leitura. De facto esta é uma das melhores estórias que li nos últimos tempos, não só pela entrosado de pensamentos, pelas reflexões constantes, pelas personagens que vão aparecendo e vão contando a estória um dos outros, como pela beleza de tudo o que é escrito e mesmo pelo que não é escrito e que está lá, sem estar. Quando estava a chegar ao fim do conto, tive uma necessidade inédita de fazer uma espécie de árvore genealógica com todas as personagens e de perceber cada uma delas e o seu simbolismo(não consigo descrever o gozo que isso me deu). Consegui escrever uma folha completa, tal a riqueza e diversidade de personagens e ao mesmo tempo de estórias. O Gabriel Garcia Márquez queixava-se de ser um texto sem tempo porque não sabemos se dura um dia, um mês, ou um ano, mas para mim isso é o que torna este livro encantador. No final um filho que procura um Pai, que nunca foi pai, mas que foi(ou não) tantas e tantas coisas...
É pequeno e lê-se muito bem, aproveitem estes dias de chuva e viagem até Comala (cidade onde tudo acontece).