Diz Gabriel García Márquez que a descoberta e leitura de Rulfo é um capítulo essencial das suas memórias. Na noite em que começou diz ele que não conseguiu parar enquanto não terminou a segunda leitura. De facto esta é uma das melhores estórias que li nos últimos tempos, não só pela entrosado de pensamentos, pelas reflexões constantes, pelas personagens que vão aparecendo e vão contando a estória um dos outros, como pela beleza de tudo o que é escrito e mesmo pelo que não é escrito e que está lá, sem estar. Quando estava a chegar ao fim do conto, tive uma necessidade inédita de fazer uma espécie de árvore genealógica com todas as personagens e de perceber cada uma delas e o seu simbolismo(não consigo descrever o gozo que isso me deu). Consegui escrever uma folha completa, tal a riqueza e diversidade de personagens e ao mesmo tempo de estórias. O Gabriel Garcia Márquez queixava-se de ser um texto sem tempo porque não sabemos se dura um dia, um mês, ou um ano, mas para mim isso é o que torna este livro encantador. No final um filho que procura um Pai, que nunca foi pai, mas que foi(ou não) tantas e tantas coisas...
É pequeno e lê-se muito bem, aproveitem estes dias de chuva e viagem até Comala (cidade onde tudo acontece).
Russo, jeitoso(a acreditar nas fotos que circulam na net) escreveu um dos livros que mais me enterneceram.
Gorki escreveu a Mãe em 1907 e é, para mim, uma das mais brilhantes estórias de revolta, mas simultaneamente de esperança. Tudo estava mal: a pobreza, a imundice, a fome.
Um grupo de jovens, no qual se destaca Pavel, decidem revoltar-se contra essas condições. Até aqui nada de novo, não fosse o facto de existir por detrás destes jovens, a mãe de Pavel que é, segundo creio, a personificação da força, da luta, do ser paciente e da presença constante na vida do filho.
Pelágia sente-se a mãe de todos os revolucionários, a mãe da revolução. Neste aspecto, Gorki estabelece um curioso paralelismo entre o amor maternal e uma espécie de amor universal que comanda a mente e a acção destes revolucionários; uma espécie de “amor ao próximo”.
O que torna Pelágia uma grande mãe é todo o percurso que é contado no livro e que faz, desta obra, uma das mais interessantes que li. Recomendo, recomendo!!!
Esta semana em conversa com um amigo sobre a minha recente descoberta literária, ele perguntou-me o que têm os livros para eu os ler em dois dias. Pensei bastante acerca disto e penso que a principal razão é todos nós termos, de uma forma, ou de outra, histórias parecidas e identificamo-nos bastante com as personagens.
Relativamente ao conteúdo não é um livro que possamos dizer que é muito rico, mas há jogos psicológicos que me agradam muitíssimo, leituras de alma de personagens que me fascinam. Em suma: estou a começar a leitura do terceiro e aconselho, uma vez mais, a leitura deste autor(a).
Digo em minha defesa que não sou adepta de seguir tendências de nada e muito menos de livros. Compro, sobretudo, porque deixo que a história me seduza antes, porque a quero saber, porque desejo entrar nela.
Neste caso admito que comprei o livro contrariada, porque ouvia falar dele em todo o lado e comecei a desconfiar. Ainda assim, li uma breve descrição e fiquei rendida. Comprei o livro e tenho de admitir a estória é fascinante, não pela profundidade, mas acima de tudo, porque me identifiquei(e penso que a maioria das pessoas) com ela. Li o livro em dois dias e fiquei com aquela sensação de orfandade que não é explicável. As personagens acompanharam-me estes dois dias e talvez tenham acompanhado grande parte da minha vida, porque penso que houve uma amiga(o) genial em todas as vidas. Aquele amigo que admiramos e que nos impeliu, muitas vezes, a andar para a frente mesmo quando as nossas pernas não saiam do mesmo sítio.
Tinha uma amiga que sabia de trás para a frente as falas de filmes, principalmente dos portugueses(antigos). Ficava quieta a ouvi-la e sentia-me, a reviver aqueles tempos e aquelas histórias. Adorava quando ela fazia isso. Eu, pelo contrário, por muito que visse filmes nunca havia frases que eu retivesse. Guardava conceitos, sensações, reflexões(que por vezes duravam dias), mas nunca frases. Muitas vezes pensei que devia ter problemas de memória ou então que era distraída. Tempos houve em que me senti triste com isso.
Hoje,sem nenhuma razão concreta, dei por mim a pensar que afinal, houve uma frase que guardei, durante anos, e que nunca contei a ninguém. Para dizer qual é tenho de situar um pouco o assunto: um dos protagonistas do filme adorava livros e muitas vezes rejeitava as relações humanas em detrimento dos livros. Nunca ninguém se questionara sobre esta predilecção, até que uma namorada lhe disse ter descoberto o porquê deste gosto. Diz-lhe ela que: - O livro pode ser fechado quando se quer, já a vida não. Esta é a frase que eu guardei.
Talvez esta ficasse cá, por duas razões, a primeira porque de certa maneira concordo que é isso mesmo, que a vida difere em parte, do livro. Por outro lado discordo veemente desta ideia. Um livro pode ser fechado fisicamente, mas quando é bom nunca fica encerrado. Há livros e Estórias que nos perseguem durante dias, semanas, anos e, até, a vida toda. Não conseguimos parar as estórias dos livros(mesmo que os fechemos) assim como não conseguimos parar a vida, enquanto é vida. Mesmo que ao longo das vivências haja vários fechos, várias interrupções, a vida flui e segue. Hoje decidi que vou alterar a frase e guardá-la de outra forma: O livro tal como a vida, só se fecha quando todas as estórias foram, de facto, vividas!!