A mesa estava vestida de cores delicadas e gulosas. Todos sentados faziam navegar as palavras por entre o barulho dos pratos e talheres. Ela estava sentada num banco largo e sorria sempre que alguém lhe perguntava a opinião, mas quando respondia fazi-o sem energia, mais por educação e sentido de dever que por convicção.
As gargalhadas pulavam de boca em boca e ela sentia-se perdida no meio de conversas que não eram dela e ideias que no seu âmago abominava. Desejava que tudo acabasse para se poder refugir no seu livro e num tempo seu. Olhava para trás à procura da altura em que preferia os livros à pessoas, pensava em momentos, em pessoas, mas não conseguia lembrar-se, o momento exacto, em que preferia a quietude e as histórias partilhadas pelas folhas brancas repletas de ideias e sensações ao invés do som estridente de ideias vazias e palavras vítreas. Percustrava no olhar dos que o rodeavam, tentava ler-lhe a verdadeira essência, aquela que não mostravam. Demorou-se nesta indagação e sorria porque via coisas e más, surpreendentes e assustadoras. Preferia o livo, pensou, por fim. Levantou-se, ajudou a arrumar a loiça e saiu, sorrateiramente, de volta para o seu livro e para as ideias genuínas que ela sempre preferia.
Já é a segunda vez que aqui falo deste autor. Na realidade estou encantada com a escrita dele. É uma forma de contar estórias crua, sem floreados, mas que nos leva para outros tempos(não assim tão distantes) da realidade portuguesa. Não posso dizer que este livro é uma estória, parece-me que os livros do Rentes de Carvalho nunca o são. Nesta obra como em outras assiste-se um cruzamento de estórias de vidas. De casamentos forçados, de infidelidades, de trabalho na terra, na dicotomia da vida na cidade e na aldeia, dos filhos, dos pais, do conservadorismo, da hipocrisia e da amizade. Um livro que nos faz reflectir sobre a vida, o mundo e os homens. Leiam, Leiam, Leiam!
Na minha incursão recente pela blogosfera têm-me acontecido deambulações maravilhosas. Para além das pessoas fantásticas que vou "conhecendo" há ideias, histórias e pedaços de vida que vão sendo partilhados e que me deixam ainda mais ligada a essas pessoas.
O que hoje partilho, com vocês, é uma história de ternura e de altruísmo, na verdadeira acepção do termo.
O Corvo, http://ositiodocorvo.blogs.sapo.pt/ com quem fui trocando algumas palavras percebeu o meu gosto por livros e decidiu oferecer-me uma história que ele escreveu. Não bastava já esta oferta e este gesto e quando começo a ler descubro com alegria que;o livro, é ,ele mesmo, uma dádiva. Sem dúvida dos melhores romances que li nos últimos tempos.
Ali se percebe a grandeza das relações entre homens e mulheres, o respeito, o não respeito, a vulgaridade, a grandeza, a amizade, o amor e tudo isso com a savana africana como pano de fundo. Sentimo-nos voltar à matéria primeira daquilo que, de facto, deve unir os seres humanos. Não posso dizer, mais mas aconselho a todos, a sua leitura. É daqueles livros que se lêem num sopro e que proporcionam uma tal felicidade que não é traduzível por palavras.
Este ano consegui controlar-me e só comprei dois livros na Feira do livro. Este de que vos falar(Mitsou) comprei porque vi que tinha o prefácio de Rainer Maria Rilke, autor que muito me agrada. Nunca tinha ouvido falar dele, mas foi daquelas surpresas que nos deixam felizes. Quando comecei a ler este livro e depois de ter acabado senti numa felicidade que não consigo traduzir por palavras. A história é linda, poética, simples e profunda. Penso que qualquer pessoa pode lê-la e vai perceber coisas dispares(isso é o que torna a história ainda mais interessante).Quando acabei pensei: isto é brilhante! É das melhores reflexões que saboreei nos últimos tempos. Gostei tanto que entreguei o livro à minha mãe. Não me surpreendi quando a vi ler toda interessada(e acreditem que é difícil a minha mãe interessar-se por alguma coisa) e me disse que gostou muito. Penso que uma criança também ia gostar.
Como já referi tenho a certeza que pode ser lido por todas as pessoas de todas as idades e as interpretações serão muito diferentes. Qual foi o último livro que vos fez feliz???