O orgulho, a experiência, a razão e o coração
(imagem retirada da internet)
Passou os dedos pelos móveis empoeirados criando um risco irregular em cada um deles. Pelas frestas das persianas castanhas, o sol lutava para entrar. Vagueou por cada uma das divisões e sentiu o vazio, o silêncio e o frio que as paredes emanavam.
O orgulho soprou-lhe baixinho que era impossível voltar a encher aquela casa com som e calor, porque já não havia espaço, não na casa, mas em si, para esses estados.
Deu mais uma volta, agora com as mãos atrás das costas, foi-se sentar num cadeirão bem próximo da varanda. A experiência dizia-lhe que era muito arriscado voltar a confiar, que não devia querer, que não o podia fazer.
Olhou em frente para a serra vestida de verde e sentiu-se tão pequena que quase teve medo de cair. Sempre pensou que era uma pessoa racional e era essa razão a dizer-lhe não tinha direito a querer coisas, a deseja-las.
Ela não era má, longe disso, mas a vida... más escolhas, talvez, escolhas necessárias, quem sabe? fizeram-na estar à beira, sempre à beira. Uma promessa de queda que não se realizava, um terreno seguro que estava sempre com vista para a queda e para o abismo. Enrolou uma mecha de cabelo entre os dedos e diminuiu a abertura dos olhos que passaram a ser pequenas fendas. Ouvia os passos das pessoas que viviam, sentiu as imagens dos que já não estavam. Aconchegou a camisola de lã cinzenta e sentou-se mais direita. Ouvia o coração bater, sentia as palavras dentro de si. um murmúrio que de inicio era baixo tornou-se mais forte, mais exaltante. O coração dizia-lhe que tentasse, que tentasse sempre.