Tântalo, a sede de poder e a sede de água...
Estava frio e o meu casaco de lã não era suficiente para me manter quente. Comecei a andar com o objectivo de aquecer e encontrei perto de um lago aquele que mais tarde,vim a saber tratar-se de Tântalo. Tântalo estava desgrenhado, com umas olheiras fundas e um olhar perdido. Tentava beber da água do lago, mas assim que se debruçava para o fazer a água rapidamente desaparecia. Ele ficava desesperado e gritava. Esforçava-se, também, para apanhar frutos que pendiam por cima da sua cabeça, mas mal lhe tocava estes evaporavam. Isto repetia-se de uma forma constante e era um episódio comovente e perturbador. Aflita corri para junto da margem e perguntei-lhe se precisava de ajuda. Baixou os olhos e confidenciou-me que ninguém o podia ajudar. Contou-me entre soluções, choro e uma respiração ofegante que desejava demasiado ter os privilégios que os deus tinham, queria muito ter tudo, disse quase a sussurrar.
Sentei-me à beira do lago que aparecia e desaparecia e ouvi-o atentamente.
Bebia, eu, cada uma das suas palavras e ao mesmo tempo ia crescendo, dentro de mim uma miscelânea de pena, revolta, dor e censura. Contou-me que para além de ter tentado roubar alimentos que eram exclusivos dos deuses, tinha cometido um crime impensável. Pedi-lhe que continuasse, mas ele escondia a cara entre as mãos. Por fim disse, a gritar, que tinha morto um filho e o tinha servido como banquete aos deuses para testar a sua divindade. Quando eles descobriram fizeram com que o filho voltasse à vida e a ele condenaram-no à morte por fome e sede. Não consegui dizer nada. As ideias atropelavam-se com os sentimentos. Ele trocara um filho pela ganância de ser um Deus e de ter poder. Afastei-me rapidamente. Não podia, de facto, ajudá-lo.