Uma carta, uma decisão
A sala era grande e ampla, com paredes de pedra grossa e rugosa. Ela estava sentada junto a uma mesa no centro com os braços caídos, sem vida, e os olhos fixos num envelope branco abandonado na mesa. O papel era brilhante e nas pontas adivinhavam-se duas pequenas dobras. Tinha medo de lhe pegar, pensou. Pressentia que a abertura daquele cofre de papel soltasse um mundo de emoções que a deixariam perdida. Olhou uma vez mais e aproximou os olhos como se tentasse ler o que estava lá dentro, sem abrir. Talvez assim a dor fosse menor, desta forma não se comprometia e podia fingir que não sabia, porque ela nunca o tinha aberto e viveria na esperança de que o que lia, não podia ser verdade porque estava atrás de um envelope que estava fechado.
Mas não conseguia ver nada e apesar de hesitante pegou no envelope e passou com os dedos nas extremidades, sentiu o papel macio, um cheiro doce convenceu-se de que aquele cheiro não podia envolver coisas más, não seria possível. Continuava a debater-se entre uma decisão de arriscar ou não arriscar , entre a decisão de saber e de rasgar o peito, ou de manter-se quieta, sem emoções e sem feridas.
Passaram dias e ela não conseguia decidir-se.
Um dia,sem pensar, abriu o envelope e alisou a folha que lá dentro habitava. Viu claramente, que ali passeava apenas uma frase.Tentou lê-la, perceber-lhe o sentido, mas não era capaz. Os olhos não conseguiam ler, e sem isso não havia pensamento. Fechou um olho e depois outro e sentiu, entre os dedos, o papel, e as letras escritas, conseguiu finalmente ler. Juntou as palavras com os dedos e foi percebendo a frase :- A Vida renova-se cada vez que se toma uma decisão e se abre um envelope. Não abrir é morrer!
Conservou a carta junto ao peito, veio sentar-se no alpendre onde o pôr- do- sol deixava as suas cores.